Era um rapaz muito concentrado na sua dominical e
reconfortante atividade cristã católica apostólica romana e mais tantos outros
tantos adjetivos em português e em latim criados na sua já fervorosa jovem religiosidade. Pouco
depois da metade da missa quando ainda havia uma fila para que os fiéis
recebessem a hóstia e o conforto de seus pecados, o rapaz reparou em uma garota. Apesar de que ela não era tão bonita, pode-se
logo ir dizendo, a visão do rapaz permaneceu naquela que estava de vestido azul
durante alguns segundos que se converteram em eternidades de pensamentos. As palavras punitivas que tentam disfarçar a
obscenidade dos palavrões conseguem ser mais divertidas de se falar do que os
próprios nomes proibidos. Logo de início o rapaz se perguntou se estava tendo aqueles
pensamentos lascivos e impróprios ou até mesmo alguma visão concreta de atos
fornicadores. Seu quase santo fluxo mental logo tratou de desviar aquele rio de
pensamentos impulsivos que, insistentemente vinham e voltavam durante as missas,
mas que agora, ativados pelas circularidades que aquela cor azul produzia, pareciam querer fixar-se por mais tempo.
Quando já estava imaginando a moça católica azulada numa cama, tentou congelar
o pensamento fixando em uma fotografia mental dela em que estivesse apenas
dormindo. Mas por vezes a visão de uma mulher inerte em sono profundo é mais
atraente que qualquer variação pornográfica já feita. Tentou pensar em outros assuntos, voltar a pauta da santa missa, mas seu olho era pescado pelas vestes celestes: seus movimentos leves quando ela ajoelhava e fechava os olhos para as
orações, depois sorria para as pessoas, talvez por ter recebido alguma dádiva
recente de deus. O mesmo deus infinito e pleno de sabedoria que, na opinião do
rapaz, agora agia diretamente e tentava cortar qualquer pensamento obsceno fazendo com que a garota azul erguesse discretamente as pequenas mãos próximo
ao nariz e que, com o dedo indicador, remexesse as narinas. Seria alguma
espécie de pequeno castigo divino por pensar imoralidades na hora da missa? Mas
será que deus, tão ocupado com a administração do universo e ainda por cima com as mais altas
questões morais humanas, iria enviar a um bonito nariz feminino uma mera
sujeira nasal, às vezes chamada catarro
ou catota ( dependendo da forma líquida ou sólida), para vigiar e punir
qualquer impulso sexual? Logo o mesmo ser divino que segundo o padre e as aulas
de catecismo tinha enviado seu único filho à terra e este, dentre outros milagres,
fez um cego enxergar utilizando de saliva? No fim das contas as questões teológicas
e morais sobre secreções do corpo humano iam se distanciando até que não
preocupavam mais o rapaz que
,desconcentrado da atividade sacra dominical, estava apaixonado.
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