Meu vizinho anda muito triste. Ainda não há dados oficiais, mas ao que parece,
este morador do meu bairro perdeu os 40 GB de pornografia que tinha em seu computador.
Se no livro Moby Dick todos temem a cor
branca da ameaçadora baleia gigante aqui, o medo teve lugar na matiz azul. Tudo
começou com a aparição da tela celeste que vez ou outra vem para assombrar os computadores.
Após reiniciar a máquina tudo parecia normal mas meu vizinho percebeu que
precisava salvar todo o seu acervo de putarias.
Em missão digna de um
Noé da pornografia meu vizinho segue madrugada adentro atrás de todo tipo de
dispositivo móvel para salvar o que fosse possível antes do Dilúvio profetizado
na temida Tela Cérulea. Era uma corrida atrás de pendrives, CDs/DVDs virgens
até mesmo disquetes. Se fosse preciso, mataria alguém por um HD externo: uma
verdadeira Arca que salvaria todos aqueles registros de vídeos e imagens de
casais humanos. Aposto que meu vizinho havia feito downloads de todas as categorias
possíveis que todo bom pai de família – que vai às quartas e domingos com
esposa e filhos para igreja – aprecia acessar em sites pornô.
E ficou tudo Azul
dinovo e dessa vez o computador não mais voltou a funcionar. Não dormiu nada o
resto da noite e logo cedo levou a CPU para uma oficina de informática. Dentro
de dois dias veio a informação de que havia dado perda total no disco rígido. Neste
momento, não se sabe bem o que aconteceu dentro de sua cabeça. Talvez imaginou –se
sobrevoando uma enorme planície azul em que milhares de casais humanos acasalavam
de várias formas e posições e, ao mesmo tempo, davam adeus ao meu vizinho.
Passou o resto da
semana perdido em melancolia. Algo como uma nostalgia masturbatória bateu nele. Apontava
para nossos amigos na rua e dizia “essa atual geração de jovens possui matéria
prima pra se divertir fácil demais, bom era nos meus tempos em que ficava
escondido espiava as primas, tias, amigas da irmã ou senão roubava revistas das
bancas”. Certa vez José Saramago disse que “é ainda possível chorar sobre as páginas
de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido”. Infelizmente,
o grande escritor português não está vivo para ver meu vizinho vertendo
lágrimas sobre a peça do HardDisk que antes abrigava toda a sua diversão contra
a monotonia diária.
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