sexta-feira, 1 de março de 2013

40 GB.



 Meu vizinho anda muito triste.  Ainda não há dados oficiais, mas ao que parece, este morador do meu bairro perdeu os 40 GB de pornografia que tinha em seu computador.  Se no livro Moby Dick todos temem a cor branca da ameaçadora baleia gigante aqui, o medo teve lugar na matiz azul. Tudo começou com a aparição da tela celeste que vez ou outra vem para assombrar os computadores. Após reiniciar a máquina tudo parecia normal mas meu vizinho percebeu que precisava salvar todo o seu acervo de putarias.
Em missão digna de um Noé da pornografia meu vizinho segue madrugada adentro atrás de todo tipo de dispositivo móvel para salvar o que fosse possível antes do Dilúvio profetizado na temida Tela Cérulea. Era uma corrida atrás de pendrives, CDs/DVDs virgens até mesmo disquetes. Se fosse preciso, mataria alguém por um HD externo: uma verdadeira Arca que salvaria todos aqueles registros de vídeos e imagens de casais humanos. Aposto que meu vizinho havia feito downloads de todas as categorias possíveis que todo bom pai de família – que vai às quartas e domingos com esposa e filhos para igreja – aprecia acessar em sites pornô.  
E ficou tudo Azul dinovo e dessa vez o computador não mais voltou a funcionar. Não dormiu nada o resto da noite e logo cedo levou a CPU para uma oficina de informática. Dentro de dois dias veio a informação de que havia dado perda total no disco rígido. Neste momento, não se sabe bem o que aconteceu dentro de sua cabeça. Talvez imaginou –se sobrevoando uma enorme planície azul em que milhares de casais humanos acasalavam de várias formas e posições e, ao mesmo tempo, davam adeus ao meu vizinho.  
Passou o resto da semana perdido em melancolia. Algo como uma nostalgia masturbatória bateu nele. Apontava para nossos amigos na rua e dizia “essa atual geração de jovens possui matéria prima pra se divertir fácil demais, bom era nos meus tempos em que ficava escondido espiava as primas, tias, amigas da irmã ou senão roubava revistas das bancas”. Certa vez José Saramago disse que “é ainda possível chorar sobre as páginas de um livro, mas não se pode derramar lágrimas sobre um disco rígido”. Infelizmente, o grande escritor português não está vivo para ver meu vizinho vertendo lágrimas sobre a peça do HardDisk  que antes abrigava toda a sua diversão contra a monotonia diária.

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