quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

Crônica da Nova Canudos

Aonde um século atrás soavam rajadas das metralhadoras, trazidas pela república do Brasil para estraçalhar os pobres e seus devaneios católico-sertanejos, uma vovó, com seu novo celular, insiste para que o neto a ensine a usar o aparelho.  O sertanejo é antes de tudo um forte: expugnado palmo a palmo  e mesmo a contragosto e com pouca paciência o neto ensina  a avó a mandar mensagens via facebook e whatsapp. A vovó, o velho sertão, neta da brava gente que resistiu no arraial da Canudos do Bom Jesus Conselheiro  quer apreender um pouco do novo sertão, da mensagem rápida, da motocicleta barulhenta, um sertão colorido, das músicas de forró eletrônico e tecnobrega, das roupas apertadas e cabelos longos do neto. Um sertão que distoa daquele sertão dos vaqueiros de cor marrom encouraçado e enlaçado a um passado que não volta jamais.   Ninguém entra em um mesmo sertão uma segunda vez, pois quando isso acontece já não se é o mesmo. Os sertões já serão outros.  




domingo, 20 de novembro de 2016

A Margarida e um Bob Dylan sertanejo


Para meu pai: Antônio Enio no seu aniversário

Em um primeiro de maio de 1983, interior da Paraíba, um rapaz magro de seus vinte e poucos anos sobe em um palco improvisado pega o violão e toca uma música de protesto, a canção "Cidadão" de Zé Geraldo. Na platéia uma mulher forte ouve cada verso da música: Margarida Maria Alves, sindicalista, que morreu " na luta mas não de fome" assassinada covarde e brutalmente a mando desses ai que vivem de massacrar os pobres desse país.

O rapaz cabeludo passa nos dedos os acordes e dedilha na memória a lembrança de sua infância pobre e, assim, canta a luta e a esperança por dias melhores. Mesmo que o tempo lhe tire alguns dos cabelos. Mesmo que os homens perversos venham pisar e arrancar as flores.