"Maria, Maria
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta (...)
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida." ( Milton Nascimento)
É um dom, uma certa magia
Uma força que nos alerta (...)
Mas é preciso ter manha
É preciso ter graça
É preciso ter sonho sempre
Quem traz na pele essa marca
Possui a estranha mania
De ter fé na vida." ( Milton Nascimento)
Lembro de um dos melhores episódios da série Cosmos em que o astrônomo Carl Sagan fala que “o universo não
parece ser nem bondoso nem hostil, mas meramente indiferente a criaturas como
nós”. Essa frase me faz pensar como a
imensidão calada e ao mesmo tempo barulhenta de um céu noturno não deixa de ser
bela pelo fato de não existir ninguém que a criou ou administra. Mesmo
acreditando nessas coisas eu adorava fingir que era católico quando conversava
com minha avó. Fingia não era por maldade e sim por certo respeito. Dona Maria
era uma daquelas fervorosas nonas católicas
que participava de tudo na Igreja e até arriscava rezar e cantar umas músicas
em latim. Era impressionante como ela sabia tudo dos santos. Desde criança eu ficava
encantado quando Maria me contava as histórias dos mártires com suas batalhas, dragões,
lanças, sacrifícios, flechas, perseguições, milagres. Adorava também ouvir os
santos nomes e seus lugares de origem: existe algo que soe mais bonito que
pronunciar “Jorge da Capadócia”? Ou quão
bonita podia ser Nossa Senhora de Fátima em seu manto branco aparecendo para os três pastores em
Portugal? E aquela imagem de São Francisco de Assis com os animais que tinha
naquele quadro que Maria uma vez me presenteou?
Não satisfeita em saber tudo
sobre as santidades Dona Maria também era disposta em organizar grupos de oração, desde os
corais que cantavam os hinos de louvor até o dedicado zelo na ornamentação da
igreja. Além de tudo era uma pessoa que
conseguia combinar uma simplicidade franciscana com uma disposição vicentina de
mover montanhas para ajudar as pessoas.
Não precisamos fazer teorias
da conspiração para explicar por que o papa Bento XVI abdicou do cargo. O motivo
é óbvio. Agora que Dona Maria não está
mais viva e a igreja católica perde um dos seus principais pilares. Talvez
daqui a uns 200 anos e mais uns 3 ou 4 papas alguém vai atribuir alguns
milagres a Dona Maria e ,assim , iniciar seu processo de beatificação e canonização.
Por enquanto, continuo
acreditando que o céu e o universo continuam se movendo indiferentes às nossas
vidas. Mas às vezes acho que alguém lá em cima deve estar trabalhando bem na
ornamentação das estrelas e das nuvens. Desde
que Dona Maria se foi dá pra notar que o
céu está muito mais bonito.